Precisamos aprender a gastar a vida

Por Luís Fernando Xavier

A morte talvez seja o maior lembrete de que não somos tão especiais, importantes ou cruciais para a existência da vida no planeta. A morte não é o ponto final, não é um intervalo, mas apenas uma vírgula na grandeza da vida. O sol não deixa de aquecer, a terra não deixa de girar e nós tampouco mudamos nossa rotina quando alguém parte. Apenas re-ajustamos nossas vidas para continuar sobrevivendo. Hoje não foi a nossa vez.

Eu ainda não aprendi a lidar com a ausência de um em meio a quase sete bilhões. Ainda acho inaceitável passar ótimas horas ao lado de alguém pela manhã e no fim do dia ver aquele corpo vazio sendo enterrado. Ainda acho grosseiro e egoísta continuar sorrindo e seguindo em frente enquanto alguém que estava bem próximo não está mais. É estranho ver a vida continuar, mas ela continua.

A vida não acaba, somos eternos. Temos poucos dias por aqui e hoje pode ser o último ou apenas o primeiro de muitos outros - a verdade é que não estamos no controle e tampouco sabemos.

O que fazer então?

Se gastar, se doar, se entregar. Sem recuos. Sem reservas. O que de mais valioso podemos oferecer para as pessoas não são recursos. O que temos de mais valioso é o nosso fôlego, nossa energia e nossa convicção, é a nossa VIDA.

Precisamos aprender a gastar a vida. A suar mais pela causa que defendemos, a nos esfolar para que outros conheçam uma Vida maior (e com mais sentido). Precisamos perder mais horas de sono, pensar, repensar, derrubar, reconstruir... Precisamos doar a nossa vida pela vida de outros.

Quando espalhamos a Vida que temos nos tornamos mais parecidos com o Criador, chegamos mais perto da onipresença e facilitamos as coisas pra quando a morte chegar.

Quando tudo que sou e tenho é espalhado entre pessoas, a vida que eu defendi, que eu entreguei – ela continua. E daí pode ser que amanhã já não haja mais tempo para mim, e o mundo não vai parar, mas a vida vai continuar.

A vida não acaba. Espalhe a vida. Não poupe.

Em memória de Sérgio Ruela, revolucionário que gastou a sua vida até o último fôlego em 10 de outubro de 2011.